ARTIGOS

POESIAS

FRAGMENTOS

Assunto mais para sentir que para analisar

“Assunto mais para sentir que para analisar”
– Cardeal Saraiva

Quando se fala de estética, quando se tenta explicar o gênio de um autor, de uma passagem, fica sempre a nossa espreita o embaraço de, na explicação, fazer perder a força do trecho, reduzi-lo, não abarcar a totalidade, como a água que se nos escapa dos dedos. Ora, e não é assim pela própria natureza da arte? Sente-se o total, o que é intransponível analiticamente. Análise é distensão, porém a arte em geral — e poesia, soberanamente — é concentração. Ao poeta, é-lhe confiado o domínio sobre as palavras primordiais, palavras prenhes da “suave música do infinito”1Rahner, Karl. Karl Rahner’s Writings on Literature Music and the Visual Arts. Edited by Gesa E. Thiessen. London: T&T Clark, 2021, p. 82., na genial definição de Rahner. Cabe àquele que se aventura a mostrar o engenho e arte em uma obra de arte apenas sugerir, apontar, fazer ver — ou melhor, sentir — apenas indiretamente, a intuição total, o mergulho no profundo. Nada mais. Mesmo o gênio analítico de um cardeal Saraiva vê-se levado a deixar a pena e dizer: “assunto mais para sentir que para analisar”2Saraiva, Francisco de S. Luiz. Obras Completas Do Cardeal Saraiva – Tomo X. 1883, p. 129.

  • 1
    Rahner, Karl. Karl Rahner’s Writings on Literature Music and the Visual Arts. Edited by Gesa E. Thiessen. London: T&T Clark, 2021, p. 82.
  • 2
    Saraiva, Francisco de S. Luiz. Obras Completas Do Cardeal Saraiva – Tomo X. 1883, p. 129.

ARTIGOS

POESIAS

FRAGMENTOS